Uma verdadeira luta que está chegando ao seu 3ª round, mas longe do fim, a pandemia do coronavírus chegou no início de 2020 e, até hoje, causa sentimentos de incertezas e infinidade. Na linha de frente: os profissionais de saúde, estafados e contando os dias para finalmente retornamos à “normalidade”; os gestores, vivendo em prol de buscar medidas que desafoguem o sistema de saúde; e as pessoas, em geral, pedindo para que tudo isso acabe.
Contudo, a “inimiga do fim”, a Covid-19 continua mostrando que veio para ficar e, atualmente, tem provocado uma alta no número de casos nesta 3ª onda em razão da variante ômicron. De acordo com o Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia (Lacen-BA), na última quinta-feira (3), foi registrada a maior taxa de positividade para Covid-19 nas amostras enviadas ao laboratório, com 67,22% de infectados.
A coordenadora do Centro de Operações de Emergência em Saúde da Bahia, Izabel Marcílio, chamou a atenção para o grande desafio deste cenário com muitos infectados, que é a coexistência de agravos.
“Como a ômicron é muito transmissível e está ‘’todo mundo’’ pegando, então a gente vai ter paciente que tem infarto, mas tem Covid também, paciente que entrou para fazer uma cirurgia de uma fratura e aí a gente testa como medida de controle e vê que ele também tá com Covid. São pacientes que demandam internação, não exatamente por Covid, mas eles estão infectados, então precisam ficar isolados”, exemplificou Izabel.
A adição de outras enfermidades ao coronavírus tem obrigado às pastas de saúde, como a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), a desenharem estratégias para o sistema de saúde conseguir atender um paciente com diferentes demandas. “Isso é bastante custoso e necessário desenhar novos processos de trabalho que é o que a gente está se debruçando agora”, afirmou.
O que a infectologista, Clarissa Cerqueira, também pontuou: “A 3ª onda tem realmente muito mais caso, a gente observa, principalmente as pessoas não vacinadas ou até quem se vacinou, mas tem alguma comorbidade mais grave, tem algum câncer em atividade, está fazendo quimioterapia ou idoso de ‘noventa e poucos anos’ então é mais ou menos nessa linha que a gente está observando a 3ª onda, só que o mesmo tempo as pessoas continuam que pegando”, disse Clarissa.
É possível distinguir esse atual cenário também pelo novo vetor de transmissão do vírus e, consequentemente, manutenção da pandemia: as crianças, ressaltou a profissional da linha de frente do coronavírus. Segundo a representante da Saúde na Sesab, as crianças estão se infectando, com sintomas leves, porém, transmitindo para outras pessoas.
Vale ressaltar que a reportagem procurou o secretário municipal de Saúde, Leo Prates, para ter um panorama da pasta de Saúde de Salvador, mas não obteve retorno até o fechamento da matéria.
1ª e 2ª onda
Com a primeira infecção de coronavírus na Bahia no dia 6 de março de 2020, Izabel Marcílio identificou o primeiro pico da doença entre junho e julho do ano retrasado. Para ela, o estado mostrou um bom desempenho em razão do lockdown. “A Bahia foi muito feliz em conseguir o achatamento da curva, nessa época a gente viveu um lockdown bastante rígido no estado todo”, afirmou.
No primeiro momento, o sistema de saúde conseguiu reagir devido ao crescimento lento da doença no estado. Segundo Izabel, isso possibilitou que a pasta conseguisse abrir leitos para receber pacientes mesmo com o desconhecimento da doença por parte de todos, inclusive dos profissionais de saúde.
“Eles foram para linha de frente com toda a insegurança, medos e incertezas, foi necessária uma abertura de leitos específicos da Covid, então abrimos hospitais de campanha como o Espanhol, a Fonte Nova e outros pelo interior e foi necessário dimensionar, adquirir insumos que a gente não tinha anteriormente na quantidade para uma pandemia como os EPIs, os insumos em UTIs, que hoje estão fortemente equipadas para os leitos de síndrome respiratória aguda grave”, relatou a coordenadora do Centro de Operações de Emergência em Saúde da Bahia.
Entretanto, em fevereiro e março de 2021, a 2ª onda da Covid-19 foi marcada como a pior para os especialistas e profissionais da linha de frente da pandemia. A infectologista, Clarissa Cerqueira, relatou as dificuldades vividas na época.
“A 2ª onda foi terrível, assustadora, eu lembro chega fico nervosa! Foi a onda do trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, muita coisa para fazer, muito paciente, hospital muito cheio, cansativo”, relembrou.
Todavia, a profissional de saúde espera um futuro otimista diante da realidade atual. “O que gente espera no futuro é que a doença se torne mais uma das causas de resfriado e, nos vacinados, que continue com casos leves, então, possa ser que no futuro a gente vá conviver sim com a Covid, mas casos leves que as pessoas precisem ficar sempre vacinadas”, completou.