Mais de 800 pessoas que foram vítimas do novo coronavírus na Bahia morreram longe da cidade em que residiam. De acordo com levantamento feito pelo Bahia Notícias, com base em dados publicados pela Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), até esta quinta-feira (30) 803 pessoas não estavam “em casa” quando perderam a luta contra a doença.
Ao todo, 14 delas morreram em outro estado: duas em Sergipe, dez em Pernambuco, uma em São Paulo e uma no Rio Grande do Norte. Além disso, 16 pessoas de fora também tiveram o óbito registrado em um hospital baiano. As vítimas residiam em Brasília (DF), Aracati (CE), Fortaleza (CE), Juazeiro do Norte (CE), Afrânio Peixoto (SE), Canindé de São Francisco (SE), Cabo de Santo Agostinho (PE), Içara (SC), Jordânia (MG), Pedra Azul (MG), Itambacuri (MG), Ribeirão Preto (SP) e Nova Rosalândia (TO), além de duas de Petrolina (PE).
A maioria das pessoas veio a óbito durante internação em Salvador (360). As cidades de Vitória da Conquista (67), Ilhéus (63) e Itabuna (56) completam a lista das que mais receberam pacientes de outras cidades.
Entre os registros, de acordo com os dados da Sesab, a maioria das vítimas era do sexo masculino (466) e morreu em um hospital público (675). Outros 118 casos ocorreram em unidades de saúde privadas. Dois morreram quando estavam em deslocamento para outro município.
Com o aumento de casos no interior, o número de pessoas que foram transferidas à capital ou para cidades maiores para tratamento também aumento, e isso reflete no aumento de pessoas que acabaram perdendo a vida longe de casa. Em maio, esses casos eram apenas 144. Em julho, foram 319.
LIDANDO COM O ISOLAMENTO
Independente da proximidade de casa, os pacientes da Covid-19 são obrigados a lidar com os sintomas físicos, e também com questões psicológicas. A psicóloga do Sistema Hapvida, Geane Santos, ressalta que entre os hospitalizados o isolamento, a proibição de receber visitas e o medo da morte são comuns e afetam o processo de recuperação.
“Tanto pacientes da UTI quanto enfermaria não podem receber visitas. Os pacientes ficam separados de qualquer pessoa, em um quarto fechado, sem acesso a conhecidos, e ainda é difícil de fazer vínculos, porque os profissionais ficam padronizados, com capa, touca, máscara”, explicou.
A psicóloga ainda alerta que o emocional influencia na melhora física. E que mesmo com todo aparato hospitalar, com as medicações e assistência de profissionais de saúde, o pensamento negativo, a solidão e a ideia de que está esperando para morrer influenciam.
“A maioria dos pacientes chega com preconceitos, por todas as informações que circulam, pelo que veem através da TV, mensagens de WhatsApp, pessoas que vão aos hospitais e não voltam… Muitos pacientes chegam com o entendimento de que ir ao hospital é ultimo estágio e é sinônimo de morte”, disse.
Geane relata que em alguns casos os pacientes deixam de comer, de beber água e isso acaba interferindo no tratamento e no processo de melhora.