Maragogipinho, situada a 71 quilômetros de Salvador pela BR-101, é um tesouro cultural do Brasil, reconhecido como o maior polo ceramista da América Latina. Com cerca de 150 olarias que atravessam gerações, a cidade é a guardiã de uma rica herança familiar na produção artesanal de cerâmica. O processo de modelagem manual evoluiu com o tempo, incorporando tornos manuais e elétricos, bem como moldes, elevando a técnica ancestral a novos patamares.
Essa tradição ceramista é um testemunho da habilidade e criatividade que flui através das mãos de artesãos locais, como Joselita da Silva, conhecida como dona Zelita, que se destaca na tradicional pintura Tabatinga, um pigmento natural de cor branca que é herança dos povos indígenas da região. Seu estilo incorpora padrões ornamentais com ramos, folhas e flores. Com mais de 60 anos dedicados à arte, ela aprendeu os segredos da pintura com a sogra e, desde então, tem se dedica ao que faz com paixão.
“Minha inspiração sempre vem da natureza, das cores e formas que vejo por aqui. Nunca penso muito no que vou pintar; só deixo a criatividade fluir e faço cada peça na hora. É uma maneira de me sentir perto da terra e da tradição dos povos daqui. É uma honra continuar essa arte e ver como as mãos de tanta gente, incluindo as minhas, conseguem fazer de pedaços de cerâmica umas coisas lindas”, conta dona Zelita.
Outro destaque é Rosalvo Santana, um mestre santeiro que escolheu um caminho artístico singular, combinando elementos barrocos e rococós nas criações. Para tanto, ele utiliza uma argila mais pura, que passa por processos de refino e decantação para alcançar a plasticidade necessária e, então, não é esculpida, mas modelada sobre uma base cônica. Os detalhes, como as linhas das mãos e as unhas, que se tornaram características distintivas de sua arte, são acrescentados por último. O processo de produção é caracterizado por uma atenção meticulosa, desde as etapas de queima, até o processo de embalagem, que é executado com o intuito de assegurar a integridade dos objetos cerâmicos.
Para Rosalvo, a arte é mais do que uma paixão: “é uma parte essencial de minha vida, tanto em termos de beleza quanto de sobrevivência. Ela me permite criar algo belo e, ao mesmo tempo, pagar as contas do mês e sustentar minha família. Com apenas dois quilos de barro, transformo meu mundo. É uma bênção poder seguir esse caminho e honrar nossa tradição cultural. Transmitir esse legado para meu filho e meu irmão é algo que me enche de orgulho. Cada peça que criamos é uma parte de nós, de nossa história e de nossa comunidade. É uma jornada que vale a pena e que nos mantém unidos e conectados com nossa herança”.
*Trabalho e Renda*
Cerca de 80% da população de Maragogipinho depende diretamente da cerâmica e do artesanato para sobreviver. O projeto Artesanato Bahia, liderado pela Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), por meio da Coordenação de Fomento ao Artesanato, desempenha um papel vital na promoção, preservação e desenvolvimento dessa tradição, apoiando os artesãos em seu crescimento e conexão com o mercado. A iniciativa abrange várias competências, desde o planejamento e promoção de programas de artesanato até a preservação da cultura local, fornecendo apoio aos profissionais, estimulando a comercialização dos produtos e a promoção do artesanato baiano em nível nacional e internacional.
O chefe de gabinete da Setre, Juremar de Oliveira, enfatiza a relevância de Maragogipinho como o maior polo ceramista da América Latina: “é importante colocar luz sobre isso, valorizar a cultura local, atrair turistas e gerar renda na gastronomia, na venda da cerâmica e no turismo local. Estamos focados em posicionar essa localidade como um centro de atividades culturais na Bahia e, assim, impulsionar o desenvolvimento econômico da região”.
*Turismo*
A riqueza artística e cultural de Maragogipinho desempenha um papel fundamental no fortalecimento do turismo regional. Visitantes de todo o mundo são atraídos para a região para apreciar a diversidade e a habilidade dos artesãos locais.
“O artesanato é um dos maiores atrativos do turismo baiano, que já conquistou o Brasil e o mundo. Esse patrimônio do Recôncavo precisa ser valorizado, para gerar mais desenvolvimento na região”, destacou a chefe de gabinete da Secretaria do Turismo (Setur), Giulliana Brito.
Stela Dalva, uma apreciadora de artesanato vinda do Rio Grande do Sul, viajou para Maragogipinho com o objetivo de adquirir peças de cerâmica e ficou profundamente encantada com a riqueza e a qualidade do trabalho dos artesãos locais: “foi uma experiência fascinante conhecer de perto a produção artesanal. A criatividade dos mestres ceramistas superou em muito minhas expectativas, que já eram altas, tornando minha visita uma experiência enriquecedora e inesquecível. São artistas verdadeiramente talentosos e merecem reconhecimento em todo o mundo”.
*Festival da Cerâmica de Maragogipinho*
Celebrando essa rica tradição ceramista, a cidade se prepara para receber o Festival da Cerâmica de Maragogipinho, que ocorrerá de 13 a 19 de novembro. Este evento reunirá artesãos, lojistas, oleiros e autoridades em uma celebração da arte artesanal que tem raízes seculares na comunidade. O festival oferecerá uma caravana de cadastramento de artesãos, espaços para a exposição e comercialização das obras, além de oportunidades de negócios, incluindo rodadas de negócios, painéis e oficinas de capacitação. A programação musical contará com apresentações de renomados artistas, como Roberto Mendes, Jau, Sued Nunes e Lenine.
O evento marca um momento significativo para a comunidade e, a partir de agora, fará parte do calendário cultural da Bahia. Essa conquista é resultado da parceria entre o Governo da Bahia, por meio do Programa Artesanato da Bahia da Setre, e as Secretarias da Cultura (Secult) e Turismo (Setur), em colaboração com a Prefeitura de Aratuípe e a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). É uma celebração da tradição, criatividade e inovação que caracterizam o artesanato de Maragogipinho.
_Repórter: Tácio Santos/GOVBA_