Lula está de malas prontas. Vai mudar para Lauro de Freitas na região metropolitana de Salvador na Bahia. Apesar da vontade pessoal dele e da namorada, a Janja, de sair de São Bernardo e ir morar em uma praia nordestina, a mudança de Lula tem causas e desdobramentos políticos profundos dentro do PT.
Com Lula fixando residência na Bahia, o senador Jaques Wagner e o governador Rui Costa se fortalecem dentro do PT, que há muitos anos é comandado do sudeste. É na Bahia onde o PT tem mais votos. A presidente atual do partido, Gleisi Hoffmann, teve que desistir do seu mandato de senadora no Paraná para conseguir um mandato de deputada e não perder o foro privilegiado diante dos inquéritos que enfrenta.
Reorganizando o comando do PT da Bahia, Lula voltaria a ter a última palavra em todas as decisões estratégicas no partido, ao contrário do que aconteceu na eleição municipal de São Paulo, quando não conseguiu impor a candidatura de Haddad e teve que se submeter a Jilmar Tatto, um candidato com força nas bases mas com perspectiva eleitoral pífia.
Com o PT novamente sob seu comando unificado e transferido para onde o partido realmente tem votos, Lula poderia negociar um acordo com o STF para disputar a eleição ao senado sob judice.
Rui Costa, que estaria no fim do segundo mandato, poderia impor sua candidatura a presidente com apoio de Lula, e Jaques Wagner poderia voltar a ser governador.
Uma chapa Lula senador, Wagner governador e Rui Costa presidente, seria crucial para o partido manter sua poderosa bancada de deputados no nordeste mesmo perdendo a eleição presidencial num eventual segundo turno.
Os petistas baianos saem ganhando, Lula cria novas e melhores condições para lutar por sua liberdade, mas os paulistas, verdadeiros donos do poder no PT vão sofrer com o crescimento do PSOL de Boulos. Gleisi Hoffmann e Fernando Haddad, os dois protagonistas do partido escolhidos por Lula na eleição de 2018, saem muito enfraquecidos.
Lula não tem compromisso com os setores mais fracos do partido, e busca cada vez mais compor uma nova correlação de forças internas com os setores que realmente tem votos regionais, como se viu no caso de Luizianne Lins no Ceará. A ex-prefeita e candidata petista se sentiu gravemente traída pelo ex-presidente e o governador Camilo Santana no episódio do encontro com Ciro Gomes que fortaleceu a candidatura de José Sarto do PDT à prefeitura de Fortaleza.