Quantas doses de bebida alcoólica você utomou da última vez que saiu? Se a resposta for mais de quatro, você pode estar bebendo demais. É o que aponta o Ministério da Saúde (MS) na Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) 2018, divulgada nesta quinta-feira, 25. Segundo o estudo, Salvador é a capital campeã em consumo abusivo de bebidas alcoólicas.
Para o MS, a ingestão de cinco ou mais doses (homem) ou quatro ou mais doses (mulher) em uma única ocasião já é um consumo abusivo de álcool. A dose corresponde a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de cachaça, uísque ou qualquer bebida alcoólica destilada.
Dos soteropolitanos ouvidos, 23,5% afirmaram ter ingerido doses superiores ao considerado abusivo – 32% (homens) e 17% (mulheres).
Essa realidade não é nova. No histórico de dez anos, Salvador já tinha alto índice de consumo abusivo de álcool (24,9%). A ingestão já alcançou o pico de 26,6% em 2012 e o menor índice em 2017 (20,8%). A média do período é de 26,1% da população.
O endocrinologista Cristiano Gidi explica que o consumo das doses de forma frequente pode levar danos à saúde. O álcool aumenta o risco de doenças cardiovasculares, além de elevar as chances de doenças no fígado.
“A pior doença ligada ao álcool é, sem dúvida, a dependência alcoólica. Mas como o consumo da bebida é socialmente aceito, existe uma quantidade baixa de diagnóstico”, apontou.
Alimentação
De acordo com o Vigitel, além de abusar da bebida, os soteropolitanos estão acima do peso, não consomem frutas e hortaliças regularmente, possuem prática insuficiente de atividade física e ficam muitas horas em frente às telas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), os fatores de risco como tabagismo, consumo alimentar inadequado, inatividade física e consumo excessivo de bebidas alcoólicas respondem pela maioria das mortes por doenças crônicas não transmissíveis.
Apesar de não se encaixar no índice do peso e na prática insuficiente de atividade física, o engenheiro civil Walter Motta, 53 anos, está no time dos que bebem e consomem poucas hortaliças.
“De sexta-feira de tarde até domingo, eu sou mais liberal nos hábitos. Chego a tomar 10, 12, 15 long necks (cervejas de 355 ml) em um sábado, se eu tiver com tempo. Eu acho esse número de cinco pouco. Eu tenho 1,92 m de altura e para ficar alcoolizado tenho que tomar muito mais que isso”, riu.
Motta admitiu que a alimentação não é tão saudável. O consumo de frutas e hortaliças não chega ao mínimo de cinco dias na semana, que é o recomendado pelo MS. Mas ele é exemplo na prática de exercícios físicos: seis dias.
O estudante de Produção Cultural Bruno Sofrozine, 29, admitiu não comer hortaliças com frequência. “Eu não como tanto hortaliças porque não chega até mim. Eu não procuro também, não faço questão de comer, mas quando eu vou almoçar em um restaurante e tem, eu como”, disse. Bruno pratica baleado uma vez por semana.
Preocupação
A diretora substituta do Departamento de Análises em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis, Luciana Sardinha, destacou que, na capital baiana, o que preocupou o Ministério da Saúde foi o consumo de álcool.
Nos últimos 10 anos, o índice de consumo de álcool pelas mulheres e homens soteropolitanos não alterou muito. O pico foi de 38% em 2012 (homens) e 18% em 2016 (mulheres). Já o ponto mais baixo foi de 30% para homens (2013) e 1% para mulheres (2014).
“O que a gente observa é que há uma oscilação maior no período do Carnaval e no mês de junho, mas não há uma motivação específica”,disse.
De forma geral, a diretora destaca o aumento de excesso de peso e obesidade, além de um menor uso de tabaco e refrigerantes e acréscimo de consumo de frutas e hortaliças e de atividades físicas.
O nutricionista do Vigilantes do Peso Matheus Motta destacou que a junção dos hábitos como não ingerir frutas e hortaliças, não praticar exercícios e usar álcool excessivamente pode elevar risco de doenças cardiovasculares e câncer.
“O consumo de fibras é muito importante para a saúde e funcionamento do intestino pode até prevenir certos tipos de câncer”, disse.
Preconceito
A autônoma Carla Leal, 40, ativista da causa gorda, destacou que a obesidade é uma questão multifatorial e que precisa ser tratada como tal. “Se coloca muito a culpa na pessoa gorda porque se você engorda é porque come muito ou porque é preguiçoso. E não é isso. Pode ter causa psicológica, metabólica, além da própria compulsão alimentar. O problema é como a sociedade se comporta em relação à pessoa gorda”, disse.
Ela destaca que muitas vezes a população gorda é tratada com preconceito pelos próprios médicos e por integrantes de academia, o que acaba afastando as pessoas desses locais.
A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador destacou o trabaho na atenção primária, além de implantar programas de controle de tabagismo, estímulo à atividade física e alimentação saudável.
“Nós temos trabalhado para retardar o crescimento acelerado em que a obesidade está crescendo mundialmente. Como é uma doença multifatorial, nós pretendemos minimizar essa velocidade”,afirmou a subcoordenadora de Ciclos de Vida, Vanessa Fonseca.
O secretário de Saúde do Estado da Bahia, Fábio Vilas-Boas, ressaltou que a pesquisa foi realizada na capital e que não necessariamente reflete o indicador de saúde do estado: “Nós temos políticas estaduais de combate à doenças cardiovasculares, diabetes e hipertensão, além de políticas para pacientes com diabetes e intolerância à glicose desde ações de prevenção e deteccão precoce”.
Perfis de soteropolitanos:
Homens
32% dos homens de Salvador abusam no álcool – o maior índice do Brasil
6,5% deles são fumantes. No país todo, os homens soteropolitanos são os que menos fumam
55% dos homens de Salvador estão acima do peso – é o 7º menor índice do país
22% deles consomem frutas e hortaliças – 3º menor índice do Brasil
Mulheres
17% das mulheres de Salvador abusam da bebida alcoólica – elas também lideram no país
32% delas consomem frutas e hortaliças – 8ª menor posição no país
34% das mulheres de Salvador praticam atividade física e 50% têm prática insuficiente
86% delas fazem mamografia – são líderes nacionais