Uma imagem de Dona Canô (1907-2012), matriarca dos Velloso, usada pela agência Ideia 3 para uma campanha do Shopping da Bahia, resultou numa briga judicial entre o fotógrafo Christian Cravo e as partes envolvidas. O imbróglio envolve ainda o cantor Caetano Veloso que saiu em defesa do fotógrafo e exige o pagamento dos direitos autorais do artista visual sob pena de desautorizar as homenagens à sua mãe feitas pelo Shopping da Bahia.
O começo
Tudo começou com o lançamento da campanha Festival Gastronômico Shopping da Bahia – Edição Dona Canô, no mês passado. As peças exibiam uma ilustração gráfica feita sobre uma imagem da homenageada que, segundo Christian Cravo, a fotografia original é de sua autoria, e que foi usada sem a sua autorização. O fotógrafo, através dos seus advogados, enviou notificação ao shopping informando o fato que classificou de “flagrante violação de direitos autorais”. Segundo Cravo, o Shopping da Bahia não respondeu a notificação, daí ele entrar com as providências judiciais. “Fico estarrecido com o nível do empresariado e desta agência em negar os fatos de grave violação dos direitos autorais. O shopping fazer homenagem ou não, a agência contratar um profissional autônomo ou não, não interfere no flagrante violação de direitos autorais e de suas responsabilidades legais”, diz o artista visual ressaltando que “de fato, a campanha publicitária foi tirada de circulação, porém faltando apenas cinco dias do período transcorrido de 5 de abril a 12 de maio”.
(Foto:Divulgação) Peça publicitária criada pela Ideia 3 para Shopping da Bahia |
Onde entra Caetano
Ao saber do fato, Caetano Veloso, segundo afirma Paula Lavigne, mulher do artista e sua empresária, o santoamarense teria ficado chateado com o shopping por não pagar os direitos autorais do fotógrafo e acionou seus advogados para que notificassem os responsáveis e os informasse que, como todos os filhos da homenageada não haviam sido consultados, exigia a suspensão da campanha e também a retirada do nome da mãe da alameda do shopping. “Caetano ficou muito zangado com esse desrespeito a obra de um artista e, como não foi consultado, resolveu intervir e exigir o cumprimento da lei, sob pena de suspender as homenagens a sua mãe”, declarou Lavigne, criadora do movimento Procure Saber, que defende os direitos autorais.
Acordo
Ainda de acordo com Lavigne, Caetano não quer briga, mas apenas que se cumpra o artigo. 20, do parágrafo único do Código Civil, referente aos direitos autorais. “Caetano exige que a situação seja resolvida e, após a resolução, defende que o shopping deva fazer, como contrapartida, uma doação de recursos para a creche em Santo Amaro, que era amadrinhada por dona Canô”, diz.
Que diz o shopping
Em nota, o Shopping da Bahia afirma que “homenageia figuras ilustres da Bahia desde sua inauguração e, no caso da de Dona Canô, foi resultado de uma articulação com a família Velloso, em alinhamento total com os filhos Mabel Velloso e Rodrigo Velloso. Além de homenagear a matriarca com o nome da alameda, o empreendimento realizou um festival gastronômico. Na noite de inauguração da alameda, o shopping recebeu quatro dos seus filhos, além de netos, amigos e outros parentes. Em relação a um possível uso indevido de fotografia sem autorização, o Shopping da Bahia esclarece que a campanha publicitária e suas peças foram desenvolvidas pela agência Ideia 3, que responde diretamente pelo conteúdo”. conclui.
Da Ideia 3
A agência Ideia 3, em nota encaminhada pela assessoria do Shopping da Bahia, afirma: “As peças da campanha não utilizaram fotografias, mas sim, uma ilustração de Dona Canô, criada por artista autônomo, contratado pela agência”. A empresa explica ainda que, “com o único intuito de afastar quaisquer dúvidas, controvérsias ou confusões a respeito da ilustração utilizada, todas as peças contendo a ilustração citada foram recolhidas imediatamente após a solicitação do fotógrafo”, conclui.
Confirmação
A coluna conversou com Rodrigo Velloso que afirmou ter autorizado o shopping a fazer a homenagem, mas que agora ficou surpreso com o descuido com o uso da imagem usada nas peças publicitárias. “Fiquei feliz com a homenagem, mas muito sentido com essa confusão toda porque foi tudo tão lindo! Fiquei sem entender essa falta de cuidado do shopping de usar uma foto sem autorização. Eles foram tão impecáveis em tudo. Soube por Mabel e fiquei surpreso. Quando faço o Terno de Réis, aqui em Santo Amaro, evito usar imagens quando não sei a autoria. Sou muito cuidadoso com os direitos autorais”, disse.