‘A única coisa que se negocia com a ditadura é que dia sairão’, diz embaixadora de Guaidó no Brasil

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O governo do autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, não está disposto a dialogar com o presidente Nicolás Maduro,que afirmou recentemente estar aberto a uma conversa com a oposição. A declaração foi dada pela embaixadora de Guaidó no Brasil, Maria Teresa Belandria,

“Esse diálogo que ele está propondo já conhecemos. Houve diálogo em 2014, em 2017, e desde esse momento até hoje temos 950 presos políticos, 65 mortos nos protestos de 2014, 135 nos de 2017”, afirmou.

“Deputados presos, deputados exilados, prefeitos com ordens de captura. O governo não está disposto a negociar nada. Eles têm o poder e vão perder. A única coisa que podemos negociar com eles nesse momento é que dia sairão”, disse.

Nomeada por Guaidó no início do mês, Belandria está há apenas três dias no Brasil. Na segunda, foi recebida pelo chanceler Ernesto Araújo e oficialmente reconhecida pelo governo brasileiro. Dezenas de países, entre eles o Brasil e os Estados Unidos, apoiam Guaidó como presidente legítimo da Venezuela.

Na reunião com o chanceler brasileiro, Belandria já começou a articular a instalação de um centro de distribuição de ajuda humanitária para a Venezuela na fronteira do Brasil. Segundo ela, o governo brasileiro apoiou a iniciativa.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores disse que, no encontro, “foram discutidas possíveis medidas capazes de viabilizar o envio de alimentos e remédios para aliviar o sofrimento a que o povo venezuelano está submetido sob o regime ilegítimo de Maduro”.

Maria Teresa Belandria, representante de Juan Guaidó no Brasil, e o chanceler brasileiro Ernesto Araújo — Foto: Reprodução/ Twitter/ Itamaraty Brasil

Maria Teresa Belandria, representante de Juan Guaidó no Brasil, e o chanceler brasileiro Ernesto Araújo — Foto: Reprodução/ Twitter/ Itamaraty Brasil

Belandria explica que a ideia é que a ajuda humanitária oferecida pelos governo do Brasil, dos Estados Unidos e do Canadá saia desse centro, que seria instalado em Roraima, e entre na Venezuela.

O transporte até a fronteira seria feito por ONGs que atuam na região, como a Cruz Vermelha, e o Exército e a polícia do Brasil ajudariam com a segurança do centro e do trajeto.

Enquanto a representante faz a articulação política para possibilitar essa logística, na Venezuela Guaidó tenta convencer os militares a permitirem a entrada da ajuda. Caminhões e militares favoráveis ao governo de Nicolás Maduro fecharam uma ponte na fronteira com a Colômbiapara impedir a passagem de um carregamento de comida e remédios. As manifestações dessa terça-feira (12) em todo o país tiveram o objetivo de sensibilizar os militares a cooperarem.

Trajetória

Advogada formada pela Universidade Santa Maria em 1989 e com mestrado em Direito Internacional, Maria Teresa Belandria foi professora em universidades de seu país por 25 anos. Há pouco mais de um ano trabalhava como professora visitante da National Defense University, em Washington (EUA).

Em 2011, começou a trabalhar como assessora de política Externa da deputada Maria Corina Machado e, no ano seguinte, coordenadora internacional do partido Vente Venezuela.

‘Diplomacia de rua’

Ela conta que trabalha em Brasília com a ajuda financeira de venezuelanos que moram na cidade. Alguns deles conheceu em 2014, quando veio ao Brasil como assessora da deputada Maria Corina Machado.

“Estamos todos trabalhando de maneira voluntária, não há salário, não há residência. Estamos todos dependendo da boa vontade dos venezuelanos ao redor do mundo que apoiam o presidente Guaidó e materializam coisas simples como um cartão de telefone”.

“Essa é uma diplomacia diferente. Estamos em uma situação absolutamente diferente. Não tem nada a ver com a diplomacia tradicional. É uma diplomacia de ação, de rua”, disse.

Eleições livres

Sobre as eleições livres que Guaidó prometeu convocar na Venezuela, Belandria diz que o autoproclamado presidente interino está articulando no Parlamento do país a troca do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que é alinhado ao governo chavista de Maduro.

“Uma vez que tenhamos um CNE imparcial e objetivo serão convocadas eleições livres, transparentes, em que participem todos os atores políticos, todos, e com observação internacional planejada”, afirmou.

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